Coisas do Brasil


Alfredo da Mota Menezes

Mais coisas do Brasil


O Brasil tem muitas coisas positivas. Mas têm outras que aceitamos como normais e que não deveriam ser. Elenco algumas.


Publicação do exterior mostrou que dos dez piores aeroportos para se cumprir horários de avião, três estão no país. O primeiro lugar é o de Brasília e o terceiro e o quarto estão em S. Paulo. E o aeroporto Tom Jobim do Rio não entrou na lista porque é “pequeno” em tráfego. O que chama a atenção é como achamos isso normal. Não deviria ser.


Publicação externa também mostrou que o Brasil está em 101 lugar em abertura da economia entre cerca 160 países. E aqui tem gente que acha que há abertura econômica demais para o exterior. Num mundo globalizado aquela posição é bastante incômoda. E é tudo normal, não há nenhuma reação.


Pesquisas externam e internas colocam o Brasil entre os mais atrasados do mundo em educação. Um setor vital para o crescimento do país. Não se vê indignação de nós todos para tentar modificar a situação.


Darcy Ribeiro bolou e Brizola implementou os Cieps no Rio. Os estudantes ficavam na escola o dia inteiro. Tinham três refeições, estudos, esportes, faziam a tarefa e voltavam para casa. Moreira Franco, como governador, para atrapalhar a vida política do Brizola, “mata” os Cieps. Pode um treco desses? E é tudo normal. Talvez possa ser dito que se os Cieps tivessem funcionado a violência no Rio não seria a que é hoje.


O TRE de Mato Grosso publicou o grau de instrução dos eleitores do estado. Do analfabeto ao que tem “ensino fundamental incompleto” são 61.35% das pessoas. Não tem leitura nem para interpretar um pequeno texto. Não quer dizer que o eleitor não saiba votar. O que se destaca aqui é o número assustador de gente com instrução baixa. E é tudo normal.


O Brasil deve ser um dos únicos países do mundo em que uma pessoa pode receber três ou mais aposentadorias. E é tudo legal. Era comum em Cuiabá se ouvir a expressão: “quantas você tem”. Ter muitas aposentadorias era sinal de prestigio. Mas isso ainda não acabou.


Outro dia a imprensa estadual mostrou a concessão de uma aposentadoria integral a um deputado que, se li direito, como suplente ficara no cargo somente por dois anos. Outro deputado foi para o tribunal de contas e levou também a aposentadoria integral de deputado e, segundo se comenta, teria ainda uma aposentadoria como funcionário da Assembléia. Quem referenda tudo isso é um conselho de ex-deputados. Comenta-se que um ex-vice-governador tem quatros aposentadorias. Não há nada ilegal. Isso é que encabula na pátria, cria-se lei para justificar o que for. É uma herança portuguesa que não vai nos abandonar.


Os agricultores estão ganhando bom dinheiro agora com o preço da soja. Um tempinho atrás parecia que o mundo ia acabar com os preços mais baixos. Faziam-se manifestações em Brasília, protelava-se o pagamento no Banco do Brasil, deputados e senadores faziam discursos indignados contra a “insensibilidade do governo”. Na época das vacas gordas ninguém fala nada.


Escreva o que vou dizer: não se vai aproveitar o momento de bonança na agricultura para guardar alguma coisa para momentos ruins, como em qualquer capitalismo. Quando vier outra crise corre-se atrás da viúva que vem pagando a conta há 500 anos.


A verba indenizatória, criada na Câmara dos Deputados, é um dinheiro por fora do salário que se espalhou pelo país. Ela não paga imposto de renda. Delegado de policia, agentes fiscais, vereadores, tribunais de justiça, deputados estaduais, todo mundo a recebe. E é tudo normal. Mas até ela é fichinha perto do cartão de crédito corporativo que virou mania na administração pública no país.

Besteira esquentar a cabeça. Tudo é “legal”.

Autor: Alfredo da Mota Menezes E-mail: pox@terra.com.br Site: www.alfredomenezes.com


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