Dilma volta a ser acusada


Dilma é acusada de favorecer compradores da Varig


Existem vários tipos decoragem. Quase todas admiráveis. Há, porém, um tipo de ato heróico mais próximo da patologia do que da bravura: a coragem retardatária.


Ex-diretora da Anac, Denise Abreu acaba de converter-se em heroína tardia. Veio à boca do palco para "denunciar" a cúpula da Casa Civil.

Afirma que a ministra Dilma Rousseff e sua lugar-tenente Erenice Guerra agiram para beneficiar os compradores da Varig.


A dupla, segundo Denise, pressionou a Anac para aliviar exigências legais impostas aos adquirentes da Varig: o fundo Matlin Patterson, dos EUA, e três sócios brasileiros.

Pela lei, pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras não podem controlar mais do que 20% do capital de companhias aéreas no Brasil.


Por isso, a Anac exigira que os sócios brasileiros do fundo norte-americano comprovassem ter capacidade financeira para bancar 80% da compra da Varig.

Foi então, diz agora a ex-diretora da Anac, que a Casa Civil interveio. "A ministra [Dilma] não queria que eu exigisse os documentos”, acusa Denise.

Em entrevista ao Estadão, ela detalhou os argumentos que diz ter ouvido da ministra-chefe da Casa Civil:


“Dizia que era da alçada do Banco Central e da Receita e falou que era muito difícil fazer qualquer tipo de análise tentando estudar o Imposto de Renda porque era muito comum as pessoas sonegarem no Brasil."

Denise Abreu diz mais: os compradores da Varig serviram-se da assessoria de um escritório de advocacia gerido pela filha e pelo genro de Roberto Teixeira.

Quem é Roberto Teixeira? Trata-se de um velho compadre de Lula. É padrinho de um dos filhos do presidente.

Nos tempos de vacas magras, Teixeira cedera à família Silva, gratuitamente, uma casa de sua propriedade.


Pois bem. Denise Abreu diz que a banca de advogados dos familiares do compadre do presidente usou o peso de sua influência para pressioná-la.

Ouvida, Dilma diz que é mentira. "As acusações feitas pela doutora Denise Abreu são falsas." A ex-diretora da Anac, porém, reafirma tudo em nova entrevista (ouça).

No Senado, a oposição ensaia a abertura de uma nova frente de investigação contra o governo. Já se fala até em cpi. Mais uma.


Denise Abreu foi apeada da diretoria da Anac nas pegadas do caos aéreo, em agosto de 2007. A Varig fora vencida antes disso.

Curiosamente, a ex-diretora abre o baú de traficâncias da agência depois de ter cultivado, por um ano, obsequioso silêncio.


A demora desmoraliza o ato heróico. Denise Abreu traz o fígado na ponta da língua. Dá o troco a um governo que julga tê-la jogado aos leões.


A apuração da encrenca é imperiosa. A bravura retroativa confere a Denise Abreu a cara de investigada, não de denunciante.

Ela precisa responder, por exemplo, por que aceitou pressões externas no instante em que ocupava a cadeira de diretora de uma agência que se pretende independente.

Escrito por Josias de Souza


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