Mato Grosso e Carlos Minc


Coisas estranhas


Carlos Minc, ao apresentar os números do desmatamento na Amazônia, deu ênfase que Mato Grosso foi quem mais desmatou. Talvez como "vingança" por um fato que ocorreu dias antes no encontro dos governadores em Belém.


O fato é tão estranho que o conto desconfiado de que não tenha ocorrido. Mas saiu na imprensa. Será que Blairo Maggi pediu mesmo naquele encontro que os governadores assinassem uma moção de desagravo a ele pelas palavras ditas pelo Minc em Paris de que plantaria soja até nos Andes?


Se verdade, foi um ato provocativo ao novo ministro. Se os governadores assinam, ele já entrava desmoralizado em sua nova função. Depois do tiroteio inicial entre ambos, o Minc estendeu a mão para um entendimento. O Blairo topou. Mas, se pediu a moção, a mão estendida ficou no ar. Se o fato ocorreu, o Minc vai pôr o Blairo na alça de mira. Não é bom para Mato Grosso.


A confusa situação na área de meio ambiente está criando estranhas decisões. Veja a do Conselho Monetário Nacional que proibia o financiamento de agricultores de 86 municípios do estado que não obedecessem a uma série de requisitos. Dizia-se que seriam atingido cerca de 50% dos municípios produtores do estado. Parecia que o mundo ia acabar.


Daqui a pouco o superintendente do Banco do Brasil em MT disse que haviam encontrado uma brecha na decisão do CMN para não prejudicar o crédito ao agricultor faltoso. Se o produtor rural levasse ao banco somente o número do protocolo de que entrou na Sema com um pedido de revisão de seus erros ambientais já valeria para tomar o empréstimo. Boa, não?


Outra? A decisão do CMN não vale para as trades (Bumge, ADM, Amaggi, Cargil e Dreyfus), aquelas companhias que financiam a maior parte dos gastos dos produtores. Elas recebem em produto. Para os produtores é até melhor do que o Banco do Brasil.


Mais: o governo federal retirou da lista alguns municípios que não deviam estar nela. Quem elaborou a tal lista incluiu município que não pertencia ao bioma amazônico. Resultado final? Tudo igual como antes.


Voltando aos números apresentado pelo Minc. Será que a Sema vai outra vez a campo para contestá-los? Será que esse é o caminho da discussão? Como é que vamos convencer o outro Brasil de que a coisa não é tão feia assim? Como explicar àqueles brasileiros que em plena operação Arco de Fogo, com dezenas de policias federais no campo, o desmate continua? Acreditarão que a coisa ficará pior se a força de segurança for embora.


Como é que o país que tem a selva amazônica não é o protagonista nessa discussão mundial? É puxado para o debate, atua na defensiva, se defende de acusações sobre atos na selva. Hoje há meios de impedir mais desmates? E aí, qual a solução?

Talvez haja somente uma maneira para tentar minorar a situação: pressão econômica dos compradores de produtos do estado.


Um exemplo: o governo de São Paulo assinou medida legal de que o estado só comprará, a partir de junho de 2009, madeira certificada. Hoje compra a madeira legal e a ilegal. Assim era impossível controlar o desmate. A Europa começa a fazer a mesma coisa. Essa pressão talvez faça o madeireiro obedecer as regras ambientais.


Parece que o McDonalds na Europa já não compra carne de gado alimentado com soja da Amazônia. Isso deve se estender também para o comprador comum. Preocupadas com isso, as grandes trades não financiam ou compram a produção de soja plantada na região amazônica. Uma ressalva: elas continuaram a financiar até onde se plantava antes da moratória, derrubadas novas não. Outra saída a la Brasil.


Enfim, somente pelo viés econômico pode haver, aos poucos, modificação na maneira de atuar dos produtores rurais.


Autor: Alfredo da Mota Menezes
E-mail: pox@terra.com.br; site: www.alfredomenezes.com


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