Nem toda crise é só crise

Nem toda crise é só crise


Tenho conversado e lido muito nas últimas semanas sobre alguns temas mundiais que refletirão no Brasil e, especialmente, aqui em Mato Grosso. Vou relatá-los rapidamente antes de concluir sobre o que nos diz respeito. A crise imobiliária nos Estados Unidos provocou de imediato uma considerável recessão na maior economia do mundo. Coincidiu com o aumento nos preços do petróleo que em junho de 2007 era de 65 dólares e hoje está quase em 140. Estima-se que chegue a U$ 200 em dezembro. Com isso, os Estados Unidos aceleraram a produção de etanol de milho, queimando 25% da sua produção, sem contar o avanço sobre áreas tradicionais de soja e de trigo. E a tendência não é boa porque os subsídios à agricultura deverão cair por conta da crise financeira no país. Tem-se aí uma crise alimentar que se soma à mundial provocada pelo aumento de consumo da China, da Índia e dos países orientais.


Na prática, o mundo experimenta uma inesperada crise de falta de comida e de energia alternativa, no caso o etanol e os biocombustíveis. Com o aumento de 20% no consumo mundial nos últimos quatro anos, não houve tempo de se equilibrar a oferta com a demanda. No Encontro dos Negócios da Pecuária, em Cuiabá, há duas semanas, foi dito por palestrantes ilustres que o consumo de carne, de grãos e de energia será crescente pelos próximos 10 anos. Basta lembrar que no ano passado a arroba de boi estava na faixa de R$ 42,00, e hoje alcança R$ 85,00, com estimativa de fechar o ano a R$ 100,00. Um bezerro de 12 meses que valia R$ 220,00 está a R$ 700,00, e quase não há animais disponíveis para reposição.



Tudo isto traduzido significa que a possibilidade de produção e de produtividade do Brasil, em especial o Centro-Oeste e, nele, Mato Grosso, é muito grande. A crise do comércio alimentar e de energia na União Européia, nos Estados e na Ásia, obrigará como, aliás, já está obrigando à migração do capital produtivo de lá para investir por aqui. Europeus já estão comprando áreas em Mato Grosso, pagando à vista em euros, através de empresas argentinas para produzir aqui. Já são adiantadas as prospecções de empresários norte-americanos, chineses, japoneses, indianos e árabes. Junto com o capital virão tecnologias mais sofisticadas que custam muito dinheiro, mas são capazes de multiplicar a produção de proteínas vegetais e animais, e de energia.



Por outro lado, a expectativa é de que toda essa produção se verticalize aqui no estado para poder agregar valor, gerar mais impostos, mais empregos e renda para os produtores. São cenários absolutamente possíveis, com perspectiva de se consolidarem num período de tempo não superior a três anos. Isso significará uma revolução em termos de produção, de produtividade, de gestão, de novos investimentos, de tecnologias, de diversificação produtiva e de verticalização ampla do setor produtivo mato-grossense.



Por fim, fico imaginando o que tudo isso vai influenciar e modificar o sistema político de Mato Grosso. Serão novos interlocutores, novos interesses, exigência formidável por resultados rápidos e eficientes na gestão administrativa e política. Ouso até dizer que as eleições de 2010 neste estado já serão influenciadas por esse clima novo e inesperado.




Autor: ONOFRE RIBEIRO
onofreribeiro@terra.com.br

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